Muitas são as variáveis associadas ao desafio de conciliação entre desenvolvimento, sustentabilidade e justiça, pois importa considerar particularidades e generalidades que vão além do Triple Bottom Line. Particularidades, por exemplo, de pessoas que estão em níveis diferentes da “pirâmide de Maslow”, e que, por isso mesmo, têm fomes e necessidades diferentes… Generalidades da globalização que agora conectam consequências de atos antes tidos como isolados, pois a ação ao sul também reverbera ao norte e vice-versa.
É preciso mais que entender. É preciso sentir que “caminho” implica em “durante”, em “fazer junto”. O sustentável não é algo pronto, à mão na prateleira. Precisa ser construído, pois a natureza não dá saltos e todo resultado de violência e rupturas drásticas é por si só inconsistente, pois implica quase sempre em imposição.
Precisamos moralizar nossa conduta de tal modo que entendamos que nos encontramos num ambiente altamente sinergético, onde toda ação implica em uma consequência. Logo, precisamos renunciar ao “eu individual” e assumir o “eu coletivo”, deixando de lado o nosso ego e valorizando a nossa essência verdadeira – aquela em conexão com o equilíbrio das coisas – agindo minimamente da forma que gostaríamos que agissem conosco e com o que usufruímos. Não somos proprietários de nada material. Somos meramente depositários de todos os recursos, e como tal, temos responsabilidades solidárias.
Não é possível perseguir o desenvolvimento com base no “crescimento pelo crescimento”, sem marginalizar muitos dos atores envolvidos no caminho. Todos têm direito à recompensa, independente de em qual momento se encheram de clareza e se apresentaram para o esforço. Pareto, neste caso, e pelo bem do equilíbrio, tem que ser contrariado – uma minoria não pode concentrar os benefícios.
Há que se continuar o fomento das discussões em torno do tema, envolver mais pessoas, ampliar a comunicação e a informação, quebrar paradigmas vigentes e derrubar modelos mentais enferrujados. Os responsáveis, seja pela descoberta, pela inovação ou pela adaptação, têm que se posicionar, pois a aldeia global está remando no mesmo barco, e na meritocracia verdadeira, quem sabe mais e é maior, tem compromisso com quem sabe menos e é menor.
É preciso repensar nosso condicionamento de sempre decidir pelo menor esforço e no curto prazo. A felicidade real, construída através da valorização do simples, e pelo repouso da consciência tranquila, tem que entrar na contabilidade da “riqueza interna bruta” de todas as nações.
Estou iludido quando acho que a concentração de riqueza, poder e recursos, a qualquer custo (especialmente se for para mim) garante o meu interesse. Estamos todos conectados e a termodinâmica nos faz lembrar que os sistema sempre vai reagir de forma a restabelecer o equilíbrio das coisas.
Sou do tempo em que status corporativo significava vaga de garagem demarcada para um carro novo, conquistada através dos sucessivos alcances de metas e indicadores estratégicos. Hoje, quem “manda bem” é aquele que pode abrir mão de trabalhar na sexta para cumprir uma agenda pessoal, individual ou com a família, sem se sentir culpado. A qualidade de vida, ao meu ver, deve ser sempre colocada num plano importante. Pense nisso.