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Categoria: Criatividade

JÁ QUESTIONOU O MUNDO HOJE?

Segundo Adam Grant, em seu livro “Originais” (Sextante, 2017), já há algum tempo os psicólogos descobriram que existem duas maneiras para se alcançar a realização: o conformismo ou a originalidade. Conformismo significa seguir a multidão, percorrendo os caminhos convencionais e mantendo o status quo. Originalidade é tomar o caminho menos trilhado, defendendo um conjunto de ideias novas que contrariam o pensamento corrente mas que, no fim, resultam em algo melhor. A originalidade envolve perceber, introduzir e impulsionar uma ideia que seja relativamente incomum em determinada área para que ela possa se beneficiar disso, e a raiz da originalidade encontra-se na criatividade: a criação de um conceito que seja ao mesmo tempo novo e útil. Mas não é só isso! Pessoas originais são aquelas que tomam a iniciativa de transformar sua visão em realidade. Pessoas originais são aquelas que saltam do campo teórico para a aplicação prática. Mas como podemos nos tornar mais originais? Não faz muito tempo, uma pesquisa conduzida pelo economista Michael Housman mostrou que uma parte dos funcionários que trabalhavam com atendimento a clientes (Call Centers) mostrava-se apática e em pouco tempo se desligava da empresa. As causas para esse comportamento não estavam claras para o pesquisador, mesmo depois de vários cruzamentos de informações e testes de hipóteses. Porém, a explicação pareceu emergir do improvável: os dados coletados mostravam que os funcionários que usavam os navegadores Firefox o Chrome para navegar pela rede permaneciam 15% mais tempo no emprego do que os que usavam o Internet Explorer ou o Safari. A explicação para esse comportamento estava no fato de que para se usar os navegadores Firefox e Chrome os funcionários tinham que tomar a decisão de não usar os navegadores padronizados (Explorer ou Safári, que já vinham originalmente instalados nos sistemas da Microsoft e Apple, respectivamente). Essa decisão era motivada por um comportamento questionador e os obrigava a se movimentar fora da sua zona de segurança, o que refletia também no aumento do interesse e do engajamento no trabalho, em busca de melhorias contínuas, tornando as rotinas de atendimento mais interessantes e o emprego, mais longevo. Da mesma forma que quase dois terços daqueles profissionais de atendimento usavam os navegadores que vinham por padrão em seus computadores, muitos de nós aceitamos o que é “padrão” em nossa vida, e isso, definitivamente, não nos incentiva a ser mais originais. A originalidade não é uma característica fixa ou inata. É uma escolha. Há pouco tempo o Google vivenciou isso na própria pele… Muitos funcionários eram tão dedicados ao “Ícone Google” que aceitavam o trabalho como um padrão inquestionável, vez que consideravam suas tarefas e interações profissionais algo fixo e imutável, não permitindo ajustes e adaptações. Algo similar ao equilíbrio de forças de Porter: “quem sou eu para questionar o Google…?” Também neste sentido, John T. Jost (Psicólogo pesquisador da Universidade de NY) em janeiro de 2003 escreveu e publicou que as pessoas que mais sofrem com determinadas situações são, paradoxalmente, as menos propensas a questionar, desafiar, rejeitar e mudar esse estado de coisas. Encontrar justificativas para os sistema corrente (mesmo que nos desagrade) serve de consolo. É como um analgésico emocional: “se é assim que o mundo deve ser, não precisamos ficar descontentes com ele”. Mas a transigência e o conformismo também nos rouba a indignação moral necessária para buscarmos modos alternativos, e mais justos, de funcionamento do mundo. Do ponto de vista do progresso e da capacidade de realização, o que distingue as pessoas originais é sua insatisfação e rejeição pelo que é padronizado e aceito como convencional, buscando sempre opções melhores, sob uma perspectiva nova, que os permitam ter novas ideias em relação a velhos problemas. Quando nos tornamos curiosos em relação às convenções insatisfatórias do mundo, nos aprofundando no seu estudo e observação, fatalmente descobrimos que a maioria delas tem origens sociais, pois as regras e os sistemas são criados por pessoas. E é essa consciência e clareza que pode nos dar a coragem para refletir sobre como podemos mudar o estado insatisfatório das coisas… À medida que o movimento sufragista (que lutou pelo direito da mulher ao voto) ganhou força, um número crescente de mulheres começou a perceber que os costumes, o preceito religioso e a lei eram, na verdade, criações humanas e, portanto, reversíveis.

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A CULTURA DA PERFORMANCE PODE ESTAR IMPEDINDO O PROGRESSO DO MUNDO

Se você é pai, mãe, tio ou tia de alguma criança com inteligência diferenciada (acima da média), provavelmente se orgulha disso e faz alguma questão de noticiar os feitos dela ao mundo. Isso é normal e muito justo! Porém, em termos de avanço exponencial, trago uma verdade incômoda: crianças prodígios raramente mudam o mundo. Embora elas, em geral, tenham talento e ambição, o que as impede de fazer o mundo avançar exponencialmente é o fato de não aprenderem, ou não serem educadas, a serem originais. A originalidade é característica inerente àqueles que tomam o caminho menos trilhado, defendendo um conjunto de ideias novas que contrariam o pensamento corrente mas que, no fim, resultam em algo melhor. Explico: as crianças prodígios (superdotadas), por exemplo, aprendem a executar magníficas melodias eruditas, mas muito poucas compõem suas próprias sinfonias. São preparadas para que seu esforço receba aprovação dos pais e a admiração dos professores. Adicionalmente, algumas pesquisas mostraram que as crianças mais criativas (base da originalidade) costumam ser discriminadas, sendo inclusive interpretadas como criadoras de caso e irritantes por seus professores, que via de regra parecem preferir o conformismo do status quo, pois talvez dê menos trabalho. O resultado é que muitas crianças aprendem depressa a seguir o roteiro, guardando suas ideias originais somente para si… A mudança necessária para a transformação exponencial do mundo, é a da criança que aprende depressa e sem esforço sobre um domínio estabelecido (superdotadas) para um adulto que remodela um domínio. Quando estamos determinados a atingir a excelência (que é um estado de hábito), temos o combustível para nos esforçar mais, por mais tempo e de forma mais inteligente. Entretanto, quanto mais se valoriza a realização para a performance esperada, mais temos medo do fracasso, e, consequentemente, menos nos arriscamos e menos criativos nos tornamos, gerando uma certa relutância em perseguirmos a originalidade. Todos temos ideias para aprimorar nosso ambiente de trabalho, nossa escola, nossa casa ou nossa comunidade, mas muitos de nós hesitam em agir para colocarem-nas em prática, pois questionar o modo antigo pode gerar desconforto demais. Neste momento optamos pela autocensura, pois normalmente temos medo de levantarmos nossas vozes, nos sobressairmos e cometermos algum pecado mortal contra o sistema ou contra o nosso próximo. Quando ficamos impressionados com aquelas pessoas extremamente criativas, que conduzem grandes transformações no mundo, costumamos imaginar que elas são “foras da curva”, feitas de matéria diferente da nossa, pois conseguem assumir riscos extremamente radicais… Mas isso é um mito. Por exemplo: o senso comum diz, e eu mesmo acreditei nisso durante muito tempo, que para um novo negócio dar certo, os empreendedores tem que dar conta de tudo sozinhos e, é claro, tem que se dedicar exclusivamente à nova oportunidade, para não haver plano B possível (opção de voltar atrás). Porém, uma pesquisa realizada em 2014 por Joseph Raffiee e Jie Fieng mostrou que os empreendedores que mantiveram seus empregos enquanto desenvolviam seu novo negócio tiveram 33% menos chance de fracassar. O hábito de manter o emprego regular não é exclusividade dos empreendedores de sucesso. Muitas mentes criativas influentes optaram conservar seus postos de trabalho, ou estudo, mesmo depois de ganharem dinheiro com seus projetos paralelos. E por que isso acontece? Porque quando aceitamos o risco em determinada área de nossa vida (aquele necessário, por exemplo, à grande mudança que queremos entregar ao mundo), reduzimos o nível geral de riscos, sendo cautelosos em outras áreas, para equilibrar. Isso também explica porque muitas pessoas se tornam originais em determinados aspectos de suas vidas mas continuam convencionais em outros. Os melhores empreendedores não maximizam o risco. Eles tratam de deixar o risco menos arriscado usando o “portfólio de riscos balanceado”. Os originais mais bem sucedidos não são os inconsequentes que saltam da cachoeira antes de olhar para baixo: ao contrário, são aqueles que inspecionam a profundidade da água e se tem alguma pedra oculta, se aproximam com relutância da beira de onde vai saltar, calculam onde devem tocar a água e conferem três vezes se tem alguém por perto para socorrê-lo, caso precise. No fim das contas são as pessoas que escolhem defender a originalidade que impulsionam o planeta. Elas sentem os mesmos medos e tem as mesmas dúvidas que nós. O que as diferencia é que, mesmo assim, partem para a ação. No fundo, sabem que fracassar lhes traria menos desgosto do que nem tentar.

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