O ano de 2020 trouxe muitos ensinamentos para todo o planeta. Sem dúvida alguma foi um ano marcante para todos nós, e acredito que não deva ser esquecido, ou cancelado, como muito se comenta, ainda que em tom de brincadeira… Pelo contrário, deve ser lembrado sob a perspectiva destes ensinamentos que nos ofereceu.
O ano de 2020, com o episódio iniciado da COVID-19, nos deu uma prova inconteste, especialmente para os céticos, que o tal Mundo VUCA existe mesmo. Sentimos na pele, em pouco espaço de tempo, todos os efeitos e sintomas desse arranjo especial de coisas tendente ao caos. Conhecemos de perto, e ainda estamos experimentando, a volatilidade, a incerteza, a complexidade e a ambiguidade (os sintomas que compõe o acrônimo em inglês de V.U.C.A).
Em vários dos cursos, oficinas e palestras que facilito através da Escola InspiraSer, quando esse assunto é importante para o contexto do treinamento (e quase sempre o é), gosto de explicar uma breve linha do tempo que construí e descrevo a seguir:
O mundo pós Segunda Guerra Mundial assistiu a uma bipolarização silenciosa do poder, dividido entre Estados Unidos da América (EUA) e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), ou, entre Americanos e Russos, ou, entre o Capitalismo e o Socialismo.
Essa queda de braço silenciosa, cheia de ameaças e sem agressão real, recebeu o nome de Guerra Fria e teve um dos seus últimos e derradeiros atos em 1989, com a queda do muro de Berlim, que representava o início do fim do “período frio”, com a unificação das duas Alemanhas (Ocidental e Oriental).
Naquele momento a inteligência militar americana já percebia um movimento global tendendo a um arranjo caótico das coisas, em cenários de bastante volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade, com muita imprevisibilidade, ao qual deu-se o nome de Mundo VUCA.
Esse fenômeno sócio-termodinâmico de tendência ao caos foi potencializado em seu início pelo advento da internet, criada nos idos de 69 como uma ferramenta militar (sob a atmosfera da Guerra Fria) e depois aberta ao mundo civil na década de 90 (através da criação dos navegadores www). A internet definitivamente revolucionou o mundo e como o percebemos, e isso acelerou ainda mais o Mundo VUCA, pois deu acesso à quase toda a informação disponível, além de ter dado voz a quem até então estava à margem, democratizando o acesso e a participação de todos.
Se a internet potencializou o Mundo VUCA, a meu ver, o grande evento que o tangibilizou foi o atentado às torres gêmeas do WTC, em Nova Iorque, em 11/09/2001. Naquele momento ficou claro para o mundo, mas especialmente para os EUA, que as coisas haviam irreversivelmente mudado, e os novos problemas demandavam novas ferramentas e abordagens para soluções realmente efetivas.
Mesmo assim o Mundo VUCA, até então, poderia soar apenas como uma realidade paralela e distante, presente apenas em um livro de ficção e do qual poderíamos nos distanciar se assim o quiséssemos.
O fato de alguém não acreditar nesse novo estado das coisas não exime essa pessoa das consequências dessa realidade. Acreditando ou não, você, eu – todos nós – estamos sujeitos aos seus efeitos, que, dependendo de como pensamos, enxergamos e nos portamos, podem ser uma grave ameaça ou uma espetacular oportunidade.
Vários estudiosos da educação e do comportamento humano, incluindo o Dr. Tony Wagner, da Universidade de Harvard, são concordantes de que um remédio adequado para o bom combate às consequências do Mundo VUCA (transformando as ameaças em oportunidades) é o reconhecimento e o desenvolvimento de habilidades especiais, subjetivas, relacionais e transversais, chamadas de Soft Skills. Entre as principais, elencadas por Tony Wagner, estão: Análise Crítica e Capacidade de Resolver problemas; Colaboração em Rede; Agilidade e Adaptabilidade; Iniciativa e Empreendedorismo; Comunicação Oral Eficaz e Curiosidade e Imaginação.
Entendo a agilidade, objeto deste texto, como sendo a filosofia prática de se utilizar ferramentas adequadas, e uma mentalidade nova, que busquem criar valor constante para as pessoas (clientes ou não) colocadas no centro do interesse e decisão. Contrariando o senso comum, a agilidade não pressupõe rapidez, porém, por incansavelmente buscar simplificar as coisas e eliminar desperdícios, acaba resultando nela.
Isso mostra claramente o poder de desembaraço representado pelo desenvolvimento de uma mentalidade de agilidade e adaptabilidade (somada às outras soft skills), com a aplicação dos seus conceitos no dia a dia comum – no trabalho e na vida social – de modo que a repetição, com clareza de porquês e entendimento das coisas, produza resultados muito melhores para todos, nos capacitando a enfrentar de maneira mais adequada todos os desafios deste Mundo VUCA, que certamente não se encerrará com o fim da pandemia de COVID-19.
Sabe aquela frase bastante usada durante os primeiros meses da pandemia, “O novo normal…”? Pois é…