Era uma manhã quase fria de julho de 2017 quando terminávamos nossa reunião de preparação para o próximo semestre letivo, e alí, próximo à garrafa de café quase quente, naquela fase de confraternização e euforia entre professores e direção escolar pelo alinhamento das coisas, abordei a Coordenadora Pedagógica num cantinho e perguntei se ela era corajosa o suficiente para comprar um projeto experimental que poderia melhorar em muitos sentidos o desempenho dos nossos alunos. Ela ficou parada por um tempo – que me pareceu uma semana – com o copo de café na mão e um olhar misto de espanto e curiosidade, e me disse a senha mágica: “Ahn… me conta mais!”
A ECOTEC é uma escola técnica particular de nível pós-médio, localizada em Betim/MG, município vizinho a Belo Horizonte. Foi fundada em 2008 com a missão de oferecer formação técnica prática, útil e relevante para as pessoas e o mercado local, organizado à época principalmente em torno dos segmentos metal-mecânico, petroquímico e de serviços. Atualmente oferece cinco cursos: Administração, Enfermagem, Fabricação Mecânica, Logística e Segurança do Trabalho, em sistema modular de ensino de um ou dois meses, dependendo da carga horária, e conta com aproximadamente 300 alunos em dois turnos.
Diferentemente de uma IES – Instituição de Ensino Superior, em uma escola técnica o tempo de resposta dos alunos para a aplicação profissional do que aprendem é muito mais curto. Em 18 meses eles já se encontram nas trincheiras profissionais lidando com problemas reais. Precisam ser amadurecidos “à força” durante este tempo para que consigam desempenhar satisfatoriamente suas novas profissões.
Nesse sentido, a ECOTEC lidera a conversa na região, pois além dos conteúdos programáticos serem selecionados para a realidade do trabalho diário, antecipando para dentro da sala de aula o que o mercado só mostraria depois, os professores obrigatoriamente tem que atuar nas áreas que lecionam. Além disso, a escola tem uma forte parceria com o mercado local, contando com mais de 400 indústrias e empresas que oferecem vagas de estágio e emprego, professores, feedbacks e várias outras oportunidades.
Mas, apesar de todo esse ambiente propício para o crescimento e a efetividade, a ECOTEC também sofria das mesmas dores que qualquer outra escola sofria. Como eram turmas muito heterogêneas do ponto de vista social e etário, sempre surgiam conflitos relacionais – especialmente nos trabalhos em grupos (Modulares) utilizados para promover o encerramento de cada módulo de aula, numa espécie de minis TCC’s. Não era raro também encontrar alunos desmotivados, desatentos e sem engajamento (especialmente no período noturno), o que contribuía ainda mais para os conflitos citados, para os atrasos e as perdas de prazos. Somada a tudo isso havia ainda a certeza de que o nível de aplicação prática do que lá se estudava deveria ser cada vez mais relevante e estimulante.
Foi então que eu, professor titular da disciplina sobre Resíduos Sólidos há quase 10 anos, com vasto registro de desempenho dos vários alunos com os quais trabalhei, fiz a proposta desafiadora para a Coordenadora Pedagógica da escola, naquele café quase quente…
Eu estava estudando, de forma autodidata, há pouco mais de três meses sobre uma novidade para mim, um tal de Scrum, cujo livro, que vi num post de um amigo no Instagram, trazia em sua capa a promessa que eu procurava: “o dobro do trabalho na metade do tempo!”. Puxa!!! Vi praticamente quase todos os meus desafios como professor em sala de aula sendo equacionados e resolvidos por aquela promessa. Bingo!
Detalhei o projeto para a Coordenadora Pedagógica e vendi o futuro para ela. Ela, obviamente, se mostrou receosa, especialmente em relação à autoridade educacional do estado, à quem a ECOTEC prestava contas. Acho que a convenci quando disse para ela que daria tão certo que ao final a Secretaria de Educação poderia fazer um benchmarking conosco e estender a experiência para ouras escolas, ajudando a impactar positivamente milhares de alunos.
Bem… Na verdade, naquele momento eu não tinha essa certeza toda, mas acreditava fortemente na ferramenta que havia aprendido há pouco e na sua potencialidade, e então decidi apostar todas as fichas usando a minha credibilidade decana como professor da instituição. Bingo 2!
Continua na Parte 2…