Como explicado na Parte 1 deste artigo, que você pode ler aqui, apesar de ter um posicionamento diferenciado em relação à preocupação com a aplicação prática, a ECOTEC não era muito diferente das outras escolas quando se consideravam as dores inerentes ao processo educacional normalmente utilizado, e bastante defasado, da formação industrial, herdada da influência militar do comando e controle.
Mas sempre existem possibilidades de renovação quando se encontram espíritos insatisfeitos, e sedentos de crescimento, que se unem em torno de um bom motivo para a ação. É o que você vai ler na continuidade desta narrativa.
… Em agosto de 2017, no retorno das aulas, lá estava eu, em sala de aula, explicando como seriam aqueles próximos dois meses, sob o olhar curioso dos alunos e o olhar atento da Coordenadora Pedagógica. Confesso que, mesmo com toda a minha experiência, aquele foi um momento muito tenso na minha carreira, e talvez, um dos últimos… Só que não!
Ofereci um treinamento básico sobre Scrum, suas cerimônias e papéis, e expliquei que para atendermos a uma grande parte do conteúdo programático daquela disciplina, dividiríamos a sala em grupos e cada grupo deveria desenvolver quatro grandes projetos. Eu continuaria dando algumas aulas expositivas, mas o ponto central do aprendizado passaria a ser os projetos.
Para termos mais sensação prática, cada grupo deveria se identificar e agir como uma empresa de consultoria ambiental, não havendo mais espaço físico formal de sala de aula. Eles poderiam trabalhar em qualquer lugar da ECOTEC – na verdade eram estimulados a isso – e os projetos envolviam sair das instalações da escola e visitar empresas reais para compreender e resolver problemas reais. Nesse ponto eu consegui mais cumplicidade e apoio da Coordenadora, pois a convidei para me ajudar a elencar quais as principais skills deveriam ser recrutadas no desenvolvimento daqueles projetos.
Aplicamos os questionários de autoavaliação nos grupos já formados, e depois os estimulamos a buscarem o equilíbrio interno das skills entre os outros grupos, numa espécie de negociação e troca de talentos da vida real. Naquele ponto conseguimos que tivessem a visão de que, mais importante do que trabalharem apenas com pessoas queridas e amigáveis, era trabalharem com o melhor time possível em termos de habilidades requeridas, mesmo que com aquele suposto “coleguinha mala”.
Na aula seguinte fizemos o backlog dos quatro projetos, cujas entregas estavam escalonadas ao longo dos dois meses, mais detalhados no nível de tasks para os dois primeiros projetos e mais ao nível de épicos para os dois últimos.
Finalmente, na segunda semana, começamos a rodar a nossa primeira sprint, que eram semanais, com início às segundas e encerramento às sextas. Eu, o professor, atuava como P.O. (Product Owner) orientando e traduzindo os valores do cliente, validando ou recusando as entregas semanais e oferecendo feedback. Cada grupo, por sua vez, elegeu o líder/gerente, que atuaria como S.M. (Scrum Master). Os demais integrantes do grupo formavam o time de desenvolvimento. Todo santo dia, nos quinze minutos iniciais das aulas – mesmo que em aulas de outras disciplinas (aqui precisei mais uma vez do patrocínio da Coordenadora Pedagógica…), eles tinham o compromisso de fazer a daily de até 15 minutos, em pé, na frente do Kanban.
1º Kanban em utilização na sala de aula
Continua na Parte 3…