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A CULTURA DA PERFORMANCE PODE ESTAR IMPEDINDO O PROGRESSO DO MUNDO

Se você é pai, mãe, tio ou tia de alguma criança com inteligência diferenciada (acima da média), provavelmente se orgulha disso e faz alguma questão de noticiar os feitos dela ao mundo. Isso é normal e muito justo! Porém, em termos de avanço exponencial, trago uma verdade incômoda: crianças prodígios raramente mudam o mundo. Embora elas, em geral, tenham talento e ambição, o que as impede de fazer o mundo avançar exponencialmente é o fato de não aprenderem, ou não serem educadas, a serem originais. A originalidade é característica inerente àqueles que tomam o caminho menos trilhado, defendendo um conjunto de ideias novas que contrariam o pensamento corrente mas que, no fim, resultam em algo melhor. Explico: as crianças prodígios (superdotadas), por exemplo, aprendem a executar magníficas melodias eruditas, mas muito poucas compõem suas próprias sinfonias. São preparadas para que seu esforço receba aprovação dos pais e a admiração dos professores. Adicionalmente, algumas pesquisas mostraram que as crianças mais criativas (base da originalidade) costumam ser discriminadas, sendo inclusive interpretadas como criadoras de caso e irritantes por seus professores, que via de regra parecem preferir o conformismo do status quo, pois talvez dê menos trabalho. O resultado é que muitas crianças aprendem depressa a seguir o roteiro, guardando suas ideias originais somente para si… A mudança necessária para a transformação exponencial do mundo, é a da criança que aprende depressa e sem esforço sobre um domínio estabelecido (superdotadas) para um adulto que remodela um domínio. Quando estamos determinados a atingir a excelência (que é um estado de hábito), temos o combustível para nos esforçar mais, por mais tempo e de forma mais inteligente. Entretanto, quanto mais se valoriza a realização para a performance esperada, mais temos medo do fracasso, e, consequentemente, menos nos arriscamos e menos criativos nos tornamos, gerando uma certa relutância em perseguirmos a originalidade. Todos temos ideias para aprimorar nosso ambiente de trabalho, nossa escola, nossa casa ou nossa comunidade, mas muitos de nós hesitam em agir para colocarem-nas em prática, pois questionar o modo antigo pode gerar desconforto demais. Neste momento optamos pela autocensura, pois normalmente temos medo de levantarmos nossas vozes, nos sobressairmos e cometermos algum pecado mortal contra o sistema ou contra o nosso próximo. Quando ficamos impressionados com aquelas pessoas extremamente criativas, que conduzem grandes transformações no mundo, costumamos imaginar que elas são “foras da curva”, feitas de matéria diferente da nossa, pois conseguem assumir riscos extremamente radicais… Mas isso é um mito. Por exemplo: o senso comum diz, e eu mesmo acreditei nisso durante muito tempo, que para um novo negócio dar certo, os empreendedores tem que dar conta de tudo sozinhos e, é claro, tem que se dedicar exclusivamente à nova oportunidade, para não haver plano B possível (opção de voltar atrás). Porém, uma pesquisa realizada em 2014 por Joseph Raffiee e Jie Fieng mostrou que os empreendedores que mantiveram seus empregos enquanto desenvolviam seu novo negócio tiveram 33% menos chance de fracassar. O hábito de manter o emprego regular não é exclusividade dos empreendedores de sucesso. Muitas mentes criativas influentes optaram conservar seus postos de trabalho, ou estudo, mesmo depois de ganharem dinheiro com seus projetos paralelos. E por que isso acontece? Porque quando aceitamos o risco em determinada área de nossa vida (aquele necessário, por exemplo, à grande mudança que queremos entregar ao mundo), reduzimos o nível geral de riscos, sendo cautelosos em outras áreas, para equilibrar. Isso também explica porque muitas pessoas se tornam originais em determinados aspectos de suas vidas mas continuam convencionais em outros. Os melhores empreendedores não maximizam o risco. Eles tratam de deixar o risco menos arriscado usando o “portfólio de riscos balanceado”. Os originais mais bem sucedidos não são os inconsequentes que saltam da cachoeira antes de olhar para baixo: ao contrário, são aqueles que inspecionam a profundidade da água e se tem alguma pedra oculta, se aproximam com relutância da beira de onde vai saltar, calculam onde devem tocar a água e conferem três vezes se tem alguém por perto para socorrê-lo, caso precise. No fim das contas são as pessoas que escolhem defender a originalidade que impulsionam o planeta. Elas sentem os mesmos medos e tem as mesmas dúvidas que nós. O que as diferencia é que, mesmo assim, partem para a ação. No fundo, sabem que fracassar lhes traria menos desgosto do que nem tentar.

QUANDO O KANBAN ENGOLIU O QUADRO BRANCO – PARTE 1 DE 3

Era uma manhã quase fria de julho de 2017 quando terminávamos nossa reunião de preparação para o próximo semestre letivo, e alí, próximo à garrafa de café quase quente, naquela fase de confraternização e euforia entre professores e direção escolar pelo alinhamento das coisas, abordei a Coordenadora Pedagógica num cantinho e perguntei se ela era corajosa o suficiente para comprar um projeto experimental que poderia melhorar em muitos sentidos o desempenho dos nossos alunos. Ela ficou parada por um tempo – que me pareceu uma semana – com o copo de café na mão e um olhar misto de espanto e curiosidade, e me disse a senha mágica: “Ahn… me conta mais!” A ECOTEC é uma escola técnica particular de nível pós-médio, localizada em Betim/MG, município vizinho a Belo Horizonte. Foi fundada em 2008 com a missão de oferecer formação técnica prática, útil e relevante para as pessoas e o mercado local, organizado à época principalmente em torno dos segmentos metal-mecânico, petroquímico e de serviços. Atualmente oferece cinco cursos: Administração, Enfermagem, Fabricação Mecânica, Logística e Segurança do Trabalho, em sistema modular de ensino de um ou dois meses, dependendo da carga horária, e conta com aproximadamente 300 alunos em dois turnos. Diferentemente de uma IES – Instituição de Ensino Superior, em uma escola técnica o tempo de resposta dos alunos para a aplicação profissional do que aprendem é muito mais curto. Em 18 meses eles já se encontram nas trincheiras profissionais lidando com problemas reais. Precisam ser amadurecidos “à força” durante este tempo para que consigam desempenhar satisfatoriamente suas novas profissões. Nesse sentido, a ECOTEC lidera a conversa na região, pois além dos conteúdos programáticos serem selecionados para a realidade do trabalho diário, antecipando para dentro da sala de aula o que o mercado só mostraria depois, os professores obrigatoriamente tem que atuar nas áreas que lecionam. Além disso, a escola tem uma forte parceria com o mercado local, contando com mais de 400 indústrias e empresas que oferecem vagas de estágio e emprego, professores, feedbacks e várias outras oportunidades. Mas, apesar de todo esse ambiente propício para o crescimento e a efetividade, a ECOTEC também sofria das mesmas dores que qualquer outra escola sofria. Como eram turmas muito heterogêneas do ponto de vista social e etário, sempre surgiam conflitos relacionais – especialmente nos trabalhos em grupos (Modulares) utilizados para promover o encerramento de cada módulo de aula, numa espécie de minis TCC’s. Não era raro também encontrar alunos desmotivados, desatentos e sem engajamento (especialmente no período noturno), o que contribuía ainda mais para os conflitos citados, para os atrasos e as perdas de prazos. Somada a tudo isso havia ainda a certeza de que o nível de aplicação prática do que lá se estudava deveria ser cada vez mais relevante e estimulante. Foi então que eu, professor titular da disciplina sobre Resíduos Sólidos há quase 10 anos, com vasto registro de desempenho dos vários alunos com os quais trabalhei, fiz a proposta desafiadora para a Coordenadora Pedagógica da escola, naquele café quase quente… Eu estava estudando, de forma autodidata, há pouco mais de três meses sobre uma novidade para mim, um tal de Scrum, cujo livro, que vi num post de um amigo no Instagram, trazia em sua capa a promessa que eu procurava: “o dobro do trabalho na metade do tempo!”. Puxa!!! Vi praticamente quase todos os meus desafios como professor em sala de aula sendo equacionados e resolvidos por aquela promessa. Bingo! Detalhei o projeto para a Coordenadora Pedagógica e vendi o futuro para ela. Ela, obviamente, se mostrou receosa, especialmente em relação à autoridade educacional do estado, à quem a ECOTEC prestava contas. Acho que a convenci quando disse para ela que daria tão certo que ao final a Secretaria de Educação poderia fazer um benchmarking conosco e estender a experiência para ouras escolas, ajudando a impactar positivamente milhares de alunos. Bem… Na verdade, naquele momento eu não tinha essa certeza toda, mas acreditava fortemente na ferramenta que havia aprendido há pouco e na sua potencialidade, e então decidi apostar todas as fichas usando a minha credibilidade decana como professor da instituição. Bingo 2! Continua na Parte 2…

QUANDO O KANBAN ENGOLIU O QUADRO BRANCO – PARTE 2 DE 3

Como explicado na Parte 1 deste artigo, que você pode ler aqui, apesar de ter um posicionamento diferenciado em relação à preocupação com a aplicação prática, a ECOTEC não era muito diferente das outras escolas quando se consideravam as dores inerentes ao processo educacional normalmente utilizado, e bastante defasado, da formação industrial, herdada da influência militar do comando e controle. Mas sempre existem possibilidades de renovação quando se encontram espíritos insatisfeitos, e sedentos de crescimento, que se unem em torno de um bom motivo para a ação. É o que você vai ler na continuidade desta narrativa. … Em agosto de 2017, no retorno das aulas, lá estava eu, em sala de aula, explicando como seriam aqueles próximos dois meses, sob o olhar curioso dos alunos e o olhar atento da Coordenadora Pedagógica. Confesso que, mesmo com toda a minha experiência, aquele foi um momento muito tenso na minha carreira, e talvez, um dos últimos… Só que não! Ofereci um treinamento básico sobre Scrum, suas cerimônias e papéis, e expliquei que para atendermos a uma grande parte do conteúdo programático daquela disciplina, dividiríamos a sala em grupos e cada grupo deveria desenvolver quatro grandes projetos. Eu continuaria dando algumas aulas expositivas, mas o ponto central do aprendizado passaria a ser os projetos. Para termos mais sensação prática, cada grupo deveria se identificar e agir como uma empresa de consultoria ambiental, não havendo mais espaço físico formal de sala de aula. Eles poderiam trabalhar em qualquer lugar da ECOTEC – na verdade eram estimulados a isso – e os projetos envolviam sair das instalações da escola e visitar empresas reais para compreender e resolver problemas reais. Nesse ponto eu consegui mais cumplicidade e apoio da Coordenadora, pois a convidei para me ajudar a elencar quais as principais skills deveriam ser recrutadas no desenvolvimento daqueles projetos. Aplicamos os questionários de autoavaliação nos grupos já formados, e depois os estimulamos a buscarem o equilíbrio interno das skills entre os outros grupos, numa espécie de negociação e troca de talentos da vida real. Naquele ponto conseguimos que tivessem a visão de que, mais importante do que trabalharem apenas com pessoas queridas e amigáveis, era trabalharem com o melhor time possível em termos de habilidades requeridas, mesmo que com aquele suposto “coleguinha mala”. Na aula seguinte fizemos o backlog dos quatro projetos, cujas entregas estavam escalonadas ao longo dos dois meses, mais detalhados no nível de tasks para os dois primeiros projetos e mais ao nível de épicos para os dois últimos. Finalmente, na segunda semana, começamos a rodar a nossa primeira sprint, que eram semanais, com início às segundas e encerramento às sextas. Eu, o professor, atuava como P.O. (Product Owner) orientando e traduzindo os valores do cliente, validando ou recusando as entregas semanais e oferecendo feedback. Cada grupo, por sua vez, elegeu o líder/gerente, que atuaria como S.M. (Scrum Master). Os demais integrantes do grupo formavam o time de desenvolvimento. Todo santo dia, nos quinze minutos iniciais das aulas – mesmo que em aulas de outras disciplinas (aqui precisei mais uma vez do patrocínio da Coordenadora Pedagógica…), eles tinham o compromisso de fazer a daily de até 15 minutos, em pé, na frente do Kanban. 1º Kanban em utilização na sala de aula Continua na Parte 3…

QUANDO O KANBAN ENGOLIU O QUADRO BRANCO – PARTE 3 DE 3

Como detalhado na Parte 2 deste artigo, que você pode ler aqui, a mudança do modelo pedagógico nas salas de aula do curso técnico em Segurança do Trabalho da ECOTEC teve um ponto fundamental construído em torno do patrocínio da Coordenação Pedagógica da escola, e os resultados mostraram que esta foi uma ótima aposta, como pode ser visto a seguir. Principais resultados alcançados Praticamente 100% dos estudantes registraram melhoria na percepção de todos os itens auto avaliados. 100% dos 9 grupos formados não atrasaram suas entregas, e 3 deles (33,3%) adiantaram a entrega final em até uma semana. Pontos negativos (visão do aluno):Tempo para aprendizado da ferramenta (27%)Dificuldade para entendimento da ferramenta (14%) Pontos positivos (visão do aluno):Visualização do todo a ser entregue antes de se iniciar (70%)Equipe comprometida com as tarefas e o aprendizado (57%)Priorização de atividades e antecipação de problemas (57%)Resolução mais rápida dos problemas (49%) Lições aprendidas (visão do aluno):“Planejamento, organização e comprometimento são fatores de sucesso”“Acompanhamento diário é determinante para se cumprir prazos e metas”“O SCRUM pode ser aplicado a qualquer coisa na vida” Sugestões de melhorias (visão do aluno):“Dedicar mais tempo à teoria do SCRUM”“Não demorar a apresentar o SCRUM aos alunos”“Estender o uso do SCRUM a todas as disciplinas” Alguns números: Desdobramentos adicionais para os estudantes Ao final deste ciclo, os estudantes que tiveram a oportunidade de conhecer, aprender e aplicar o Scrum em sala de aula conquistaram uma valiosa competência bônus. Por estarem à frente da maioria de seus concorrentes no nível técnico, se mostraram mais interessantes para muitas empresas contratantes. Foi assim que ao menos cinco pessoas conseguiram vagas de estágio remunerado em grandes indústrias da região metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) justamente por demonstrarem esse conhecimento, que muitas das empresas estavam implantando naquele momento, além das hard skills esperadas. Fase II Diante dos excelentes resultados obtidos com esse Projeto Experimental, a Coordenadora Pedagógica sobreviveu sem grandes traumas associados à ansiedade, e eu, não apenas não fui demitido, como fui convidado a expandir o projeto para todas as disciplinas de todos os cursos da ECOTEC. Ufffa! Começamos então a planejar a Fase II do Projeto Experimental na qual o Kanban engoliria o quadro branco de vez… Melhorias baseadas nas lições aprendidas Para a Fase II, após conquistar a confiança pedagógica da Coordenadora, e, orientados pelas possibilidades de melhorias percebidas, criamos o seguinte plano de ação para transformar a ECOTEC numa escola pedagogicamente centrada nos Frameworks Ágeis e nas Metodologias Ativas de ensino e aprendizagem: Criamos uma oficina para ajudar no aprendizado e na aplicação do Scrum, chamada de BOOK SCRUM GAME, onde os novos alunos e os novos professores, ou mesmo aqueles que sentiam que precisavam revisar algum ponto da ferramenta, se reuniam e escreviam um livro artesanal, do completo zero, em até cinco horas, usando os conceitos ágeis. Introduzimos a metodologia ABP – Aprendizagem Baseada em Projetos para orientar a seleção dos projetos que seriam desenvolvidos e a sua rubrica de avalição, incluindo, necessariamente, a autoavaliação dos alunos. Utilizamos também a metodologia da Sala de Aula Invertida, como forma de ativar o interesse dos alunos nos temas teóricos e otimizar o tempo de produção dos projetos em sala de aula. Desenvolvemos e/ou utilizamos outras técnicas de aprendizagem ativa, tais como ATFI, Giro Colaborativo, Aprendizagem em Espiral, Jogo das Sete Escolhas Consensadas e Gincanas Competitivas. Todo o material produzido em sala de aula, além de receber a publicidade prevista na ABP, passou a integrar um banco de informações para consultas futuras pelos demais docentes da escola. Criamos um plano de atenção especial com os docentes, especialmente os recém contratados, para que entendessem a importância da mudança de paradigma e atuassem como facilitadores e mantenedores do processo dentro das salas de aula. Próximos passos Obviamente que, passados três anos do início da experiência, e considerando que o ciclo médio de cada aluno na escola é de 18 meses (1,5 anos), atualmente não existem mais alunos que vivenciaram o processo de transição ente metodologias tradicionais e metodologias ativas, o que é um elemento facilitador. Foram dias difíceis quando eu, a Coordenadora Pedagógica e a Proprietária da ECOTEC, enfrentamos uma rejeição forte por parte de alguns alunos e professores mais resistentes à mudança. Porém, os resultados mostraram, e vem mostrando, que estávamos certos ao apostar na ideia. Logo, o próximo passo natural a ser dado pela comunidade ECOTEC envolve o que chamo de ECOTEC 2.0, quando a escola passaria a adotar a ABP como linha mestra metodológica, acrescida de um processo lúcido de Gamification, ficando o Scrum como coadjuvante importante de gestão das entregas.

COMO OS HÁBITOS SE FORMAM

Segundo o livro “O Poder do Hábito”, escrito por Charles Duhigg, os hábitos são construídos a partir de uma sequência organizada em três etapas: Uma deixa (ou gatilho mental)Uma rotinaUma recompensa Toda vez que nosso cérebro reconhece uma determinada deixa, ou gatilho mental, há um disparo interno que nos faz movimentar em direção a uma rotina, que é o hábito propriamente dito. Ao final desta rotina, se experimentarmos uma recompensa pelo esforço empreendido, estaremos validando esse esforço como “justificável” e sinalizando que da próxima vez que percebermos o mesmo gatilho (ou deixa), estaremos prontos para nos submetermos à mesma rotina. Sempre que percorremos esse ciclo, também conhecido como “looping”, validamos o hábito ao longo do tempo, estabelecendo um modo mecânico de reação. E isso é bom, pois o nosso cérebro usa essa estratégia para economizar energia com a tomada de decisões – cerca de 30 a 40% do que fazemos ao longo do dia é em modo automático/mecânico (através dos hábitos). O problema se estabelece quando esse hábito não é saudável e traz consequências questionáveis e perigosas, recebendo o nome de vício. Para se alterar um hábito percebido, ou julgado, como ruim, a atenção deve se concentrar na etapa da rotina, trocando-a por alguma ação mais saudável sempre que o gatilho se manifestar. Para a criação consciente de um novo hábito, a atenção deve ser colocada no gatilho e na recompensa. Se, por exemplo, você quiser criar o hábito de fazer atividade física, mesmo depois de um dia cheio de trabalho em casa (especialmente neste momento de recomendação para afastamento social), experimente colocar o seu despertador – que vai te apontar o término da sua jornada de trabalho – dentro do seu par de tênis, longe de você, de modo que você tenha que se levantar do seu posto de trabalho. Quando o alarme soar, indicando o final da sua jornada, ao se levantar e desligá-lo você já terá em mãos o seu par de tênis, funcionando como um gatilho para te colocar em prontidão para se trocar e iniciar os seus exercícios. Ao final das atividades, permita-se ser recompensado por algo que te ofereça prazer e possa reforçar o sentimento de que a rotina (exercícios físicos) valeu a pena. Da mesma maneira, se você quiser desenvolver o hábito de se sentar para estudar, procure criar um gatilho mental (uma deixa) que coloque seu corpo e mente preparados para aquela tarefa. Eu, por exemplo, me acostumei (criei a deixa) a tomar uma generosa xícara de café com canela, sem açúcar, sempre que vou começar a estudar (ou escrever). Esse gatilho dispara em mim o estado de alerta para o que vem a seguir (nesse caso, duplamente, por causa do café… hahaha). Entro em estado de fluxo, trabalhando segundo a técnica Pomodoro, e ao final do objetivo estabelecido (meta cumprida) eu me presenteio com alguma recompensa. Você pode usar qualquer coisa… Um episódio de sua série favorita no streaming, um pedaço de chocolate, ou, se você for mais fitness, pode ser uma porção de brócolis. O importante é reconhecer e validar o esforço. Mas é preciso perseverar, pois especialistas da neurociência apontam que um novo hábito começa a se estabelecer, em média, a partir do 21º dia de prática diária. Talvez seja por isso que a maioria das pessoas abandona a academia nas duas primeiras semanas… ‘Bora então prestar atenção em como formamos nossos hábitos?

DETOX DIGITAL

Se você sofre de ansiedade e acha que não tem tempo para estudar, trabalhar e fazer tudo o que precisa, então talvez a causa e a solução para essa dor possam estar mais próximas do que você imagina. Segundo uma famosa pesquisa da USP de 2014: 20% dos usuários brasileiros de smartphones são declaradamente viciados em internet;70% das pessoas que trabalham diante de uma tela de computador apresentam sintomas desconfortáveis como olho seco, dor de cabeça e dificuldade para visualizar objetos próximos. O relatório Global Digital, de 2018, traz outros dados importantes: O brasileiro gasta diariamente, em média, 9h14min navegando na internet;Em redes sociais são mais ou menos 3,5h por dia. Isso mostra um enorme isolamento da nossa parte em relação ao mundo real. A busca incessante por atualização das redes sociais cria em nós um vazio que pode se estender para quadros de ansiedade e depressão. Além disso, o eterno “estar online” acaba criando uma desconexão temporal, a que eu chamo de Síndrome do t+1, que aparece quando estamos de corpo presente em uma determinada situação e a nossa mente e a nossa atenção estão em outro lugar, ou no próximo compromisso a ser cumprido. Sem falar na quantidade enorme de tempo desperdiçado! Justo por nós que tanto reclamamos que não temos tempo para nada… Lembra-se das 3,5 horas de navegação diária em redes sociais? Obviamente, os casos mais graves de “dependência digital” devem ser acompanhados por especialistas médicos e psicólogos, mas nas situações mais brandas, uma solução bastante eficaz pode ser você se submeter a um DETOX DIGITAL. Isso mesmo! Uma desintoxicação digital. Por isso eu relacionei onze passos para você seguir e conseguir de “desintoxicar”: Busque momentos solitários e individuais, e aprenda a valorizá-los. Você pode começar com a atenção plena em você enquanto toma o seu banho. Exercite a autoconsciência através da respiração. Dedique tempos regulares ao longo do dia para você simplesmente parar, fechar os olhos e respirar longa e profundamente. Isso faz baixar os batimentos e funciona como uma âncora, te reconectando com o presente. Adote objetivos claros e definidos que possam te fornecer um norte a ser perseguido. Faça uma coisa de cada vez. A eficiência do estado de multitarefa é um mito. Em média gasta-se 25% a mais de tempo quando se faz muitas coisas simultaneamente. Determine um horário limite para desligar o celular à noite. O ideal é que seja no mínimo 30 minutos antes de dormir, de maneira a permitir um sono de boa qualidade. Ignore seu smartphone enquanto estiver com outras pessoas, seja numa reunião, numa aula, numa mesa de restaurante ou numa roda de amigos. Lembra-se da Síndrome do t+1?. Não se permita comer em frente ao computador, ou levar o smartphone para a mesa de refeição. Bloqueie todas as notificações de seu celular. Mantenha-o no silencioso e deixe o modo de vibração apenas para chamadas. Estabeleça três janelas de tempo, de 20 a 30 minutos, para navegar na internet por lazer, incluindo redes sociais. Pode ser uma de manhã, uma à tarde e outra à noite. Saia de todos os grupos de WhatsApp possíveis, e esforce-se para não entrar em outros sem um critério definido e objetivo claro. Utilize a tecnologia a seu favor. Utilize aplicativos e programas que possam bloquear ou restringir o uso e a navegação na internet, para te ajudar a se manter no controle. Diante desses onze passos você poderá até ficar um pouco assustado, pois normalmente exigirá muito esforço da sua parte, afinal, tratam-se de mudanças de hábitos. Você vai sofrer um pouco no início, e mais um pouco no decorrer do tempo, mas se perseverar, aos poucos vai conseguir baixar a ansiedade “por achar que está perdendo alguma coisa” e conseguirá se reeducar. E a recompensa por todo esse esforço virá na forma de liberdade para produzir e estudar mais, para ficar mais tempo com quem é importante, para caminhar em direção aos seus sonhos e metas. Você também vai conquistar a sensação tranquila do dever cumprido. E isso… Não tem preço.

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